quarta-feira, 23 de março de 2016
terça-feira, 8 de março de 2016
PALESTRA DE ÁLVARO ARRANJA SOBRE «A BATALHA DO VISO E A REVOLTA DA PATULEIA», organizada pela Universidade Sénior de Setúbal
28-01-2016 15:21
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NA CASA DA CULTURA DE SETÚBAL, «ARISTIDES DE SOUSA MENDES - O CÔNSUL QUE DESOBEDECEU A SALAZAR»: EXPOSIÇÃO E CONFERÊNCIA POR DANIEL PIRES E ÁLVARO ARRANJA
04-02-2016 12:35
O Centro de Estudos Bocageanos recorda e homenageia a figura exemplar de Aristides de Sousa Mendes. É já no próximo sábado, 6 de Fevereiro de 2015, na Casa da Cultura, em Setúbal, e o programa do evento contempla uma exposição evocativa e uma conferência, a cargo de Daniel Pires e Álvaro Arranja.
NA GALERIA MUNICIPAL DE SETÚBAL: «BOCAGE E GOYA» POR ÁLVARO ARRANJA E ANTÓNIO GALRINHO
13-01-2016 09:19
«Bocage e Goya em tempo de revolução» é o tema da conferência que Álvaro Arranja, Vice-Presidente do Centro de Estudos Bocageanos, e António Galrinho irão proferir, no próximo sábado, dia 16 de Janeiro, a partir das 18:00, na Galeria Municipal de Setúbal (antigo edifício da agência do Banco de Portugal). A iniciativa é promovida pela Câmara Municipal de Setúbal e insere-se nas comemorações dos 250 anos do nascimento de Bocage.
«Bocage...um afrancesado» - Conferência de Álvaro Arranja na Casa Bocage
«Bocage...um afrancesado»
Conferência de Álvaro Arranja na Casa Bocage
Organizada pela Associação Agostinho da Silva,
decorreu em 28 de Novembro de 2015
na imagem notícia no jornal municipal «Setúbal»
NA BIBLIOTECA NACIONAL, CONFERÊNCIA DE ÁLVARO ARRANJA: BOCAGE VISTO POR REPUBLICANOS E ANARQUISTAS. O CENTENÁRIO DE 1905 em 22.09.2015
20-09-2015 22:07
A Biblioteca Nacional de Portugal assinala os 250 anos do nascimento de Bocage com a exposição Da inquietude à transgressão: eis Bocage…, comissariada por Daniel Pires e uma série de conferências sobre o poeta. A primeira conferência tem lugar já no próximo dia 22, terça-feira, pelas 18:30, no Auditório da BNP. Será orador o historiador Álvaro Arranja, Vice-Presidente do Centro de Estudos Bocageanos, que falará sobre Bocage visto por republicanos e anarquistas. O centenário de 1905.
Em 1905, o Centenário de Bocage foi um momento de grande mobilização popular, sobretudo na cidade de Setúbal, demonstrando a existência de uma particular identificação entre o povo e a obra do poeta que ultrapassa o culto da figura de Bocage Boémio. Para os republicanos Bocage, tal como Camões, é uma das figuras a apontar ao povo como exemplo, quase um “santo laico” da luta pela liberdade e contra a tirania, fazendo, nesse momento, causa comum com os sectores anarquistas, já importantes no meio operário setubalense.
Ler mais: http://centro-de-estudos-bocageanos7.webnode.pt/news/na-proxima-terca-feira-22-as-18-30-na-biblioteca-nacional-conferencia-de-alvaro-arranja-bocage-visto-por-republicanos-e-anarquistas-o-centenatio-de/
O ÚLTIMO DIA DO GENERAL SEM MEDO – VISITA GUIADA A BADAJOZ, OLIVENÇA E VILLANUEVA DEL FRESNO Por Álvaro Arranja
16-06-2015 11:42
O Centro de Estudos Bocageanos promoveu no passado dia 14 de Junho uma visita guiada a Badajoz, Olivença e Villanueva del Fresno, orientada pelo historiador Álvaro Arranja, que reconstituiu o dia do assassinato de Humberto Delgado, ocorrido há 50 anos.
Nas fotos podem-se ver os principais momentos dessa iniciativa.
Junto ao antigo Hotel Simancas, de Badajoz, onde se alojaram Humberto Delgado e Arajaryr Campos, sua secretária.
Na Praça de Espanha, em Badajoz, recordando a Guerra Civil espanhola, o apoio de Salazar a Franco e o massacre de Badajoz.
Junto à estação de correios de Badajoz, onde Delgado e Arajaryr enviaram os seus últimos postais.
Na estação ferroviária de Badajoz, onde o General se encontrou com o PIDE Ernesto Lopes Ramos.
No local onde Delgado e Arajaryr foram assassinados pela PIDE, junto à estrada Badajoz-Olivença, em Los Almerines.
Próximo de Villanueva del Fresno, no local onde a PIDE enterrou os corpos, assinalado com um monumento.
Flores do Centro de Estudos Bocageanos para Humberto Delgado e Arajaryr Campos.
Nas fotos podem-se ver os principais momentos dessa iniciativa.
Junto ao antigo Hotel Simancas, de Badajoz, onde se alojaram Humberto Delgado e Arajaryr Campos, sua secretária.
Na Praça de Espanha, em Badajoz, recordando a Guerra Civil espanhola, o apoio de Salazar a Franco e o massacre de Badajoz.
Junto à estação de correios de Badajoz, onde Delgado e Arajaryr enviaram os seus últimos postais.
Na estação ferroviária de Badajoz, onde o General se encontrou com o PIDE Ernesto Lopes Ramos.
No local onde Delgado e Arajaryr foram assassinados pela PIDE, junto à estrada Badajoz-Olivença, em Los Almerines.
Próximo de Villanueva del Fresno, no local onde a PIDE enterrou os corpos, assinalado com um monumento.
Flores do Centro de Estudos Bocageanos para Humberto Delgado e Arajaryr Campos.
Ler mais: http://centro-de-estudos-bocageanos7.webnode.pt/news/o-ultimo-dia-do-general-sem-medo-visita-guiada-a-badajoz-olivenca-e-villanueva-del-fresno/
Conferência «Humberto Delgado - O general Sem Medo», por Álvaro Arranja, em 25 de Abril de 2015
17-04-2015 22:26
O Centro de Estudos Bocageanos comemora o cinquentenário da morte do General Humberto Delgado, candidato da oposição democrática ao Estado Novo nas eleições presidenciais de 1958, que viria a ser assassinado pela polícia política do regime em 13 de Fevereiro de 1965, em Vilanueva del Fresno, Espanha. No próximo dia 25 de Abril, na Sala José Afonso da Casa da Cultura, em Setúbal, Álvaro Arranja profere, a partir das 15:00, uma conferência subordinada ao tema "Humberto Delgado, o General sem Medo". E às 15:45 é inaugurada, também na Casa da Cultura, a exposição documental "Humberto Delgado, 50 anos depois: a resistência à ditadura", com uma visita guiada por Daniel Pires.
Ler mais: http://centro-de-estudos-bocageanos7.webnode.pt/news/a25-de-abril-na-casa-da-cultura-humberto-delgado-50-anos-depois/
A REVOLUÇÃO FRANCESA NA PINTURA E NA ILUSTRAÇÃO
22-09-2014 00:27
A Casa da Cultura de Setúbal, acolheu a conferência «A Revolução Francesa na Pintura e na Ilustração», no passado dia 20 de Setembro.
A sessão contou com a presença de António Galrinho, artista plástico e investigador de História da Arte e Álvaro Arranja, historiador.
Na imagem vemos também António Chitas, vice-presidente do CEB, entidade organizadora da conferência, integrada nas Comemorações Bocagianas de 2014.
A sessão contou com a presença de António Galrinho, artista plástico e investigador de História da Arte e Álvaro Arranja, historiador.
Na imagem vemos também António Chitas, vice-presidente do CEB, entidade organizadora da conferência, integrada nas Comemorações Bocagianas de 2014.
Ler mais: http://centro-de-estudos-bocageanos7.webnode.pt/news/a-revolu%c3%a7%c3%a3o-francesa-na-pintura-e-na-ilustra%c3%a7%c3%a3o/
Setúbal: Batalha do Viso é recordada em passeio pela cidade
Setúbal: Batalha do Viso é recordada em passeio pela cidade
31-05-2014 20:09
A história da cidade de Setúbal foi recordada através de um passeio pela cidade, este sábado, dia 31 de Maio, às 16h00. A actividade organizada pelo Centro de Estudos Bocageanos teve a participação de 40 pessoas e visou dar a conhecer a história da batalha travada no alto do Viso e a Revolta da Patuleia em Setúbal, no ano de 1847.
Esta actividade surgiu após a publicação do livro do historiador Álvaro Arranja, "A Batalha do Viso e a Revolta da Patuleia em Setúbal", integrado na colecção "Clássicos de Setúbal", do Centro de Estudos Bocageanos.
O passeio foi ser guiado pelo próprio autor e teve início junto à Casa da Cultura de Setúbal e contou com a colaboração do investigador e engenheiro Alberto Pereira sobre o decorrer da batalha.
Foi um momento decisivo da revolta da Patuleia insurreição que, na sequência da Maria da Fonte, marcou o descontentamento popular contra o Governo de Costa Cabral e da rainha D. Maria II, cuja origem se centrava no enorme agravamento de impostos provocado pela necessidade de assegurar enormes rendas do Estado a grandes companhias privadas.
Em Setúbal se concentraram todas as milícias revolucionárias do sul do país, contra as quais o Governo de Lisboa enviou o seu exército que estacionou no Alto do Viso, numa situação de verdadeira guerra civil.
Esta actividade surgiu após a publicação do livro do historiador Álvaro Arranja, "A Batalha do Viso e a Revolta da Patuleia em Setúbal", integrado na colecção "Clássicos de Setúbal", do Centro de Estudos Bocageanos.
O passeio foi ser guiado pelo próprio autor e teve início junto à Casa da Cultura de Setúbal e contou com a colaboração do investigador e engenheiro Alberto Pereira sobre o decorrer da batalha.
Foi um momento decisivo da revolta da Patuleia insurreição que, na sequência da Maria da Fonte, marcou o descontentamento popular contra o Governo de Costa Cabral e da rainha D. Maria II, cuja origem se centrava no enorme agravamento de impostos provocado pela necessidade de assegurar enormes rendas do Estado a grandes companhias privadas.
Em Setúbal se concentraram todas as milícias revolucionárias do sul do país, contra as quais o Governo de Lisboa enviou o seu exército que estacionou no Alto do Viso, numa situação de verdadeira guerra civil.
Ler mais: http://centro-de-estudos-bocageanos7.webnode.pt/news/website-lan%c3%a7ado/
Livro «A Batalha do Viso e a Revolta da Patuleia em Setúbal» (2013)
“A BATALHA DO VISO E A REVOLTA DA PATULEIA EM SETÚBAL”
Morreram mais de 500 pessoas na Batalha do Viso, durante o séc. XIX.
O investigador Álvaro Arranja, em obra editada pelo Centro de Estudos Bocageanos, afirma que este período da então Vila de Setúbal é quase desconhecido: “mesmo o Forte de São Luís Gonzaga (Castelo Velho) está ali em ruínas e muita gente não sabe sequer onde é, passam por elas e não as ligam à história”.
Na sequência da “Maria da Fonte” e revoltado com o aumento de impostos para financiar companhias privadas, o povo destruiu os arquivos tributários do país. Setúbal torna-se a capital das forças patuleias em 1847 e congrega quase 4.000 pessoas vindas de todo o país, para se defender do exército de D. Maria II.
A História repete-se?
Livro «Mataram Mariana...Dos Fuzilamentos de Setúbal à Ruptura Operariado-República em 1911» (2011)
«Quase nada sabemos sobre Mariana Torres e António Mendes, os dois operários mortos em 13 de Março de 1911, em Setúbal, pelas balas da recém-criada Guarda Republicana. Porém, essas mortes (cinco meses após o 5 de Outubro) e a imagem das indefesas operárias conserveiras baleadas na Avenida Luísa Todi, quando lutavam pela sua dignidade como operárias e como mulheres, foram um acontecimento marcante para a relação entre a República e o operariado e a própria evolução histórica da 1ª República.»
segunda-feira, 7 de março de 2016
Livro «Anarco-Sindicalistas e Republicanos. Setúbal na I República» (2009)
ANARCO-SINDICALISTAS E REPUBLICANOS.
SETÚBAL NA 1ª REPÚBLICA
Álvaro Arranja e a história do movimento operário no século XX
Artigo de João dos Reis Ribeiro no blog NESTA HORA e no jornal O SETUBALENSE de 27.01.2010
“Os finais do século XIX e o primeiro quartel do século XX são marcados em Setúbal, como em todo o país ‘urbano’, pela presença e coexistência, por vezes difícil, do movimento republicano e do movimento operário e sindical, predominantemente anarco-sindicalista.” Assim começa o último livro do historiador setubalense Álvaro Arranja, Anarco-sindicalistas e Republicanos – Setúbal na I República (Setúbal: Centro de Estudos Bocageanos, 2009), apresentado publicamente no fim-de-semana passado.
Ao longo das duas centenas de páginas, o autor vai provar essa dificuldade de coligação, que culminará em divórcio, dividindo o seu trabalho em duas partes: uma, de narração e interpretação histórica, a mais longa, partindo de fontes como a imprensa local, sobretudo a imprensa comprometida com o movimento operário; a outra, preenchida por uma dúzia de textos (documentais e uma cronologia), que consolidam o trabalho de Álvaro Arranja.
A história do associativismo e do movimento operário sadino recua a meados do século XIX, com o autor a fazer uma incursão no papel desempenhado pelo jornal O Setubalense, fundado por Almeida Carvalho em 1855 (o que faz deste título, ainda hoje em publicação, um dos mais antigos da imprensa portuguesa, se bem que não o jornal mais antigo, uma vez que houve várias interrupções na sua história), fortemente associado ao aparecimento da Associação Setubalense das Classes Laboriosas, em cuja criação Almeida Carvalho igualmente participou. Há também incidência sobre a primeira década do século XX setubalense no que respeita ao movimento operário, fortemente influenciada pela ocorrência de greves (dos pescadores, dos soldadores, dos conserveiros, dos marítimos, dos carregadores de sal, dos tipógrafos, dos condutores de sal, dos corticeiros, de mulheres operárias) e pelo aparecimento de jornais ligados ao operariado (O Produtor, “dos soldadores e do povo operário”, em 1900; O Trabalho, “da classe operária”, em 1900; O Libertador, “dos praticantes farmacêuticos”, em 1901; O Germinal, “defensor dos oprimidos”, em 1903).
Com estes elementos, fácil se torna perceber que o congresso do Partido Republicano, realizado em Abril de 1909, onde foi decidido o derrube do sistema monárquico pela via da revolução, tenha ocorrido em Setúbal, justificando Álvaro Arranja que, “em Setúbal, os republicanos sentiam-se em casa”, porque se tratava “de um dos centros urbanos mais influenciado pelo republicanismo, pela adesão aos princípios igualitários proclamados desde a Revolução Francesa”.
Tais ingredientes conduzem a uma esperança acentuada nos efeitos que poderiam advir da implantação da República (desejo que o historiador acentua com a descrição do que era o quotidiano operário nessa primeira década do século XX em Setúbal) e não é por acaso que a noite de 4 de Outubro de 1910 vê o edifício da Câmara Municipal a ser destruído por um incêndio, num acto que foi consequência da contenda entre os populares e a polícia.
De igual forma, as exigências à República se notam na região do Sado, tal como o prova a realização da primeira greve geral ocorrida em Fevereiro de 1911, que os trabalhadores das fábricas das conservas prolongaram até 12 de Março. A tensão agudiza-se com a morte de dois grevistas numa manifestação na Avenida Luísa Todi em 13 de Março (Mariana Torres e António Verruga), ocorrida quando a Guarda Republicana tentava conter grevistas (acto que, segundo o periódico O Trabalho, “foi o baptismo de sangue da jovem Guarda Republicana”, e que, de acordo com o jornal lisbonense Terra Livre, assinalou a data “que marca o divórcio da República com o operariado”).
As manifestações do movimento operário são acompanhadas por Álvaro Arranja até Janeiro de 1934, aquando da greve geral convocada pela CGT para o dia 18, contestando o salazarista Estatuto Nacional do Trabalho, que deu origem a prisões e a um recrudescimento da repressão, assim considerando o autor que esta foi a data da “última grande acção do movimento sindicalista que tinha enquadrado os trabalhadores portugueses na I República”.
Pelo livro de Álvaro Arranja vão passando figuras que obtêm para o operariado o estatuto de heróis, como Mariana Torres ou António Verruga ou como Jaime Rebelo (ligado à greve dos marítimos de 1931); vão passando cruzamentos com a expressão literária, com referências a criadores como Alves Redol (que, em Os Reinegros, evoca os trabalhadores mortos na manifestação de 1911), Jaime Cortesão (a propósito de um seu poema, “Romance do homem da boca fechada”, sobre Jaime Rebelo) ou Émile Zola (sobre o significado do seu romance Germinal e o simbolismo associado ao jornal de título homónimo que se publicou em Setúbal entre 1903 e 1913); vai passando a história da imprensa operária e sindical praticada em Setúbal, considerada a fonte de informação essencial para este trabalho (com destaque para os títulos O Trabalho, Germinal e A Voz Sindical, com capítulos específicos, bem como para a acção que opôs o poder político ao jornal O Setubalense em 1927); vai passando o pulsar da vida agitada e lutadora da Setúbal dessas três décadas, em parte ritmada pelas descrições e narrações jornalísticas, quase levando o leitor a presenciar os acontecimentos. Todos estes factores se conjugam para que este estudo constitua um bom elemento de informação e de explicação sobre alguns sucessos e insucessos das políticas da época, bem como um interessante documento sobre algumas marcas da identidade setubalense.
Evocar a República sem rasurar a História
artigo de João Madeira - 01-02-2010 publicado em “Setúbal na Rede”
As comemorações do centenário da proclamação da República estão aí. Estralejam no Porto a propósito do 31 de Janeiro de 1891 e seguirão ano fora. Oxalá não queira todo o fausto institucional mostrar, e impor, uma imagem virtuosa da República, afeiçoada e retocada face à História.
É que a República foi violenta, foi fraudulenta e caciquista nos processos eleitorais para eternizar no poder os grupos que o detinham, foi pouco sensível em matéria social e cedo se divorciou dos de baixo que a apoiaram e isso é parte do seu curso histórico, como é também parte desse percurso a consagração do laicismo civil, a separação da Igreja e do estado ou a afirmação de um constitucionalismo sem trono.
Evocar a República é evocar tudo isso, evocando também a generosidade, a desilusão, a combatividade como os deserdados olharam o novo regime.
Vem isto a propósito da excelente iniciativa do Centro de Estudos Bocageanos, ao editar Anarco-Sindicalistas e Republicanos. Setúbal na I República, de Álvaro Arranja.
A capa inscreve uma extraordinária fotografia retirada do Arquivo de Américo Ribeiro, mostrando-nos a fachada da Câmara Municipal de Setúbal, sobrevivendo desventrada, destruída, ao ímpeto popular que a tomou de assalto a 4 de Outubro de 1910.
Os republicanos radicais, operários, trabalhadores pobres da cidade, não quiseram, conta-nos Álvaro Arranja, esperar que notícia da proclamação da República chegasse por telégrafo e tomam tal decisão em mãos, irrompendo pelas ruas, crescendo de caudal popular, obrigando a que a bandeira republicana fosse hasteada no edifício municipal e, perante a resistência policial abrindo fogo, foi o edifício assaltado e incendiado.
Numa comunidade fortemente proletarizada e imbuída de uma cultura operária onde se misturavam tradições socialistas, republicanas e sindicalistas de funda extracção anticlerical, foi na noite desse dia igualmente assaltada e incendiada a Igreja do coração de Jesus e o Convento de Brancanes.
A violência transbordava contra os símbolos das mais poderosas instituições da monarquia que se derrubava. Não era uma violência gratuita, tinha o sentido histórico que, à luz do tempo, os actores sociais lhe conferiram.
Mas, proclamada a República, nem meio ano seria necessário para que, em plena Luísa Todi, erguendo as reclamações operárias no curso da greve geral de Março de 1911, a Guarda disparasse contra os manifestantes, derrubando de morte António Verruga e Mariana Torres. Era o divórcio entre os operários e a República. Desfazia-se cedo o bloco social que tornara possível a sua implantação.
Foi desta tensão, desta conflituosidade social, que a República se fez. Não é possível assinalar o seu centenário, ignorando tudo isto, pelo simples motivo de que a História e a realidade são o que são e não aquilo que alguns gostariam que fosse.
Livro «Bocage, a Liberdade e a Revolução Francesa» (2003)
Álvaro Arranja
Bocage: A Liberdade e a Revolução Francesa
"Consta nesta intendência que Manuel Maria Barbosa de Bocage é o autor de alguns ímpios papéis, sediciosos e críticos que nestes últimos tempos se têm espalhado por esta corte e este reino; (...), explica página 18 deste livro Álvaro Arranja, Professor de História, acerca da justificação dada pelo intendente Pina Manique atribuída a uma ordem de prisão de Bocage. Este é apenas um dos muitos episódios que o autor conta no livro "Bocage: A Liberdade e a Revolução Francesa".
A obra reúne um conjunto de estudos em torno da figura de Barbosa de Bocage, tendo como pano de fundo a Revolução Francesa e a influência desta sobre a figura do poeta. Mas, segundo refere Álvaro Arranja, na introdução deste livro, a figura de Bocage vai ser "a bandeira de outros movimentos contestatários, como o republicanismo e o anarquismo."
O autor refere ao "Setúbal na Rede" que no livro, fruto de um aprofundado trabalho de investigação, o leitor vai encontrar um Bocage "ligado às ideias de liberdade e revolução francesa", encarado como uma pessoa "contestatária e que acaba por ser, na época, alguém que anuncia em Portugal as ideias que apareciam na Europa". São estes novos conceitos e ideais que Bocage vai reflectir, não só na sua poesia, como também nos actos irreverentes que fortemente o caracterizavam.
A revolução francesa é, no final do Século XVIII, um acontecimento decisivo que vai atingir Portugal, tal como atingiu outros países no mundo. "Bocage é um desses portugueses atentos aos novos ideais que estão na base desta Revolução", refere o professor e investigador, de 44 anos. O "Elmano Sadino" vai pagar com a prisão a sua atitude coerente "na defesa de um novo regime de liberdade", incompatível com a situação do Portugal do século XVIII. Na opinião de Álvaro Arranja, Bocage personifica a figura do "poeta transgressor", e é isso que acaba por passar para a memória dos Portugueses, conclui ao"Setúbal na Rede".
O livro, no cômputo geral, reveste-se de um grande interesse histórico-cultural ao redor da figura de Bocage, focando igualmente o impacto que o poeta teve na imprensa da época. A obra, de 83 páginas, é a quarta edição de uma colecção de livros publicados pelo Centro de Estudos Bocageanos ao redor desta mítica figura setubalense.
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“Setúbal na Rede” - 08-03-2004 |
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